quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Crise climática,. meio ambiente e o papel da classe trabalhadora em Santa Catarina

 

Foto: João de Deus Medeiros

Míriam Santini de Abreu, jornalista

O assalto às terras públicas em geral, áreas de preservação permanente e unidades de conservação, com mudanças na legislação para legitimá-lo, sustenta esta reflexão sobre 1) crise climática, 2) meio ambiente e 3) o papel da classe trabalhadora em Santa Catarina. Compreender a relação entre as três realidades implica desvendar o violento exercício do poder fundiário, conceito desenvolvido pelo historiador Gert Schinke no livro “O poder e a terra: 500 anos de concessões de terras públicas em Santa Catarina”. O poder fundiário, afirma o autor, se traduz na capacidade de projeção de poder político-econômico por parte de pessoas, clãs familiares e grupos empresariais. 

Falar em crise climática hoje é como falar em desenvolvimento sustentável coisa de duas décadas atrás. É um guarda-chuva que abriga desde discursos e ações radicais, a serviço da emancipação humana, até o oposto, uma mera justificativa para a contínua venda da natureza, como é o caso do bilionário mercado de compra e venda dos chamados créditos de carbono. Enquanto abatem vidas e áreas inteiras mundo afora, os efeitos da crise climática viram nicho de negócios diversificados. Oportunidades de ampliar lucros, como se verá na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30, em novembro (Belém - PA), 

Do mesmo modo, falar em meio ambiente ou questão ambiental é aderir à politização em torno do discurso sobre a natureza. As grandes empresas vendem “preocupações ambientais” para a imprensa e os acionistas enquanto exploram e poluem a natureza e silenciam discursos críticos. É preciso então desvendar o palavrório do capitalismo “verde” e chegar às práticas, analisando aqui especificamente o caso de Santa Catarina. 

Foi no estado que se potencializou uma conjunção de forças políticas e econômicas que levou às alterações, em 2012, do Código Florestal Brasileiro. O grande articulador do processo foi o então senador Luiz Henrique da Silveira, governador de 2003 a 2010, tendo o Código Ambiental de Santa Catarina como um dos eixos da campanha eleitoral de 2006. Reeleito, nos anos seguintes ele elaborou e aprovou o Código, em 2009, ancorado no “Pacto Federativo como instrumento de Desenvolvimento Sustentável com a União”. O Código mudou de novo, atropelando debates necessários, em 2022, tendo uma série de artigos declarados inconstitucionais pelo Tribunal de Justiça de SC em 2024 por fragilizarem a proteção da Mata Atlântica. 

Em 2025, mais uma vez, o Código está no centro do debate político catarinense por causa da definição de onde começam os chamados Campos de Altitude: se a 1.500 metros acima do nível do mar, como diz o Código, ou 400, como diz a legislação federal. O assunto, bastante complexo, foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF) depois que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) multou a empresa Klabin, com base na legislação federal, por converter remanescentes de vegetação de Campos de Altitude em plantios de pinus. Em julho, a revista científica Science, uma das mais respeitadas do mundo, publicou artigo de pesquisadores de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Eles apontam que, entre 2008 e 2023, cerca de 50 mil hectares de Campos de Altitude foram convertidos para a plantação de pinus. 

A mídia catarinense produziu notícias vergonhosas, assumindo os argumentos dos representantes empresariais e do governador Jorginho Mello (PL). Ele chegou a fazer um vídeo de quase nove minutos direcionado ao STF e à Procuradoria Geral da República em defesa da atuação do estado e das empresas no assunto. Por enquanto, estão suspensos todos os processos judiciais que discutem a validade da norma prevista no Código Estadual do Meio Ambiente. 

Paralelo a isto, correm no Congresso Nacional outros projetos que reduzem unidades de conservação, como o Projeto de Lei 849/25, de deputada Geovania de Sá (PSDB-SC), atingindo a Área de Proteção Ambiental da Baleia-Franca. Do mesmo modo, as áreas indígenas e quilombolas no estado estão frequentemente na mira de interesses privados, a serviço do lucro e com representações majoritárias nos legislativos municipais, estadual e federal.

O afã de mudar a legislação aparece também nos planos diretores, especialmente nas cidades litorâneas, em acelerada verticalização, e na legislação sobre unidades de conservação municipais. Em Florianópolis, uma Comissão Parlamentar Especial (CPE), criada para discutir a situação das Unidades de Conservação (UCs) da capital, produziu um relatório preliminar de 46 páginas no qual se vê, camuflada sob um palavrório legal, uma orquestrada tentativa de desconstituir essas unidades, com argumentos já contestados em pareceres apresentados na Câmara.

O relatório cita 11 UCs municipais, indica que representam 33% da área terrestre do município e afirma: “... há vícios jurídicos, administrativos e orçamentários substanciais no processo de instituição e gestão das Unidades de Conservação Municipais em Florianópolis”. Ao final, lista encaminhamentos e recomendações, sendo uma “medida imediata” a “suspensão dos efeitos dos decretos que criaram UCs sem observância do devido processo legal, até a regularização de seus vícios através de decreto legislativo”. A palavra “propriedade” aparece 27 vezes no relatório; “mudanças climáticas”, uma vez. É a mesma Câmara que, em 2023, por maioria, aprovou o Plano Diretor, a atual Lei Complementar 739/2023, atropelando a legislação para favorecer interesses empresariais na lógica da cidade-mercadoria. 

Não é de hoje que os grupos dominantes se beneficiam de forma fraudulenta das terras em Santa Catarina. Na obra “O golpe da ‘Reforma Agrária’ – fraude bilionária na entrega de terras em Santa Catarina”, de 2017, o autor, Gert Schinke, através de extensa pesquisa nos arquivos do extinto Instituto de Reforma Agrária de Santa Catarina (IRASC), que funcionou entre as décadas de 1960 e 1970, comprova que, dos cerca de 16 mil títulos de propriedade entregues pelo órgão no estado, em torno de 11.200 poderiam ser considerados no mínimo irregulares pelos critérios que legalmente davam base para a reforma agrária.

Em vez de serem entregues prioritariamente a camponeses, posseiros e pescadores, como previa a lei, as terras foram concedidas a militares, funcionários públicos, empresários pecuaristas e profissionais liberais. Tratou-se de uma fraude fundiária efetivada sob o manto de uma suposta reforma agrária. 

Essa crua realidade é silenciada pela mídia hegemônica, que aplaude iniciativas como o “Abril Amarelo”, do governador Jorginho Mello, lei aprovada na Assembleia Legislativa para “promover campanhas de conscientização quanto a comunicação das autoridades policiais no caso de avistar movimentações de invasão de propriedades privadas” e “conscientizar a população sobre a importância da união de proprietários de terra, produtores vizinhos, amigos e família para montar acampamento permanente para evitar a invasão”. Os mecanismos ideológicos – inverter, naturalizar, ocultar e apresentar interesses particulares como se fossem universais – tratam como crime o desespero dos despossuídos por terra e moradia enquanto tentam soterrar no passado a memória das terras usurpadas via antigo IRASC. 

QUEM SE PREOCUPA COM A CRISE CLIMÁTICA?

O Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE/SC) determinou, em abril, a realização de um novo processo de acompanhamento da execução orçamentária e financeira da Defesa Civil do estado para o ano de 2025. O motivo: considerável sobra de recursos quando comparados os investimentos previstos com os valores utilizados. Na mitigação, prevenção e resiliência para a redução de riscos de desastres, por exemplo, foram usados apenas R$ 30 mil de R$ 3,11 milhões (0,96%). Em educação continuada em proteção e defesa civil e na ampliação, modernização e melhoria da rede de monitoramento e alerta, o índice foi de 0%.

Detalhe: Santa Catarina é o estado que mais emitiu decretos de calamidade pública (ao menos 4 mil) de 2013 a 2023, segundo a Confederação Nacional dos Municípios. Nesse período, foram registradas 148 mortes em decorrência de situações climáticas. Quase 57 mil pessoas ficaram desabrigadas e ao menos 450 mil foram desalojados por algum tipo de desastre. Tal realidade, porém, aparece publicamente desconectada da crise climática. 

A Frente Parlamentar para o Fortalecimento da COP30 na Assembleia Legislativa tem reuniões frequentes, mas ainda não apresentou os termos do documento que será levado ao evento. As entrevistas do deputado Mauro de Nadal (MDB), que preside a Frente, levam a crer que a tônica será a defesa do modelo do agronegócio e da pequena propriedade rural catarinense, que, segundo ele, é produtiva e protege o meio ambiente. O próprio objetivo da frente é ampliar o debate sobre como conciliar sustentabilidade ambiental e produção agropecuária, ou seja, a crise climática não é o centro das preocupações.

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável está promovendo audiências regionais para ampliar a participação da sociedade na COP30 e levantar propostas e sugestões de diversos segmentos da população catarinense. A divulgação das audiências já realizadas, porém, até agora é genérica e não ajuda a compreender os dilemas de cada região. Isso a menos de um mês e meio do início da COP30. Os jargões – desenvolvimento sustentável, sustentabilidade – vão constituindo o discurso e substituindo um vocabulário vivo sobre as realidades regionais.

O PAPEL DA CLASSE TRABALHADORA 

Pesquisas do DIEESE/SC e do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (NECAT/UFSC) trazem uma série de informações sobre o perfil da classe trabalhadora catarinense. Para este artigo, interessa apenas apresentar alguns fatos para pensar nas formas de enfrentar a realidade já posta. 

A classe trabalhadora não tem, em Santa Catarina, um sistema de comunicação que represente seus interesses. Rádios, tevês, jornais, portais, são dominados por empresários e mantidos prioritariamente com dinheiro público, como mostram os repasses mensais feitos a eles pelo governo do estado, Assembleia Legislativa e prefeituras.  Os poucos veículos independentes não chegam à maioria da população, que pouco ou nada sabe da rotina de desmandos que potencializa as tragédias climáticas. Desgraça concretizada, sobram para Deus ou a chuva. Desmontar a ideologia que impede a compreensão da natureza como mercadoria sob o capitalismo exige investimento em jornalismo por parte de sindicatos e movimentos populares em geral, que precisam se unir para viabilizar a visibilidade pública de suas lutas. 

Outra medida é cobrar, das universidades públicas catarinenses, a produção de pesquisas necessárias para investigar e expor os impactos da crise climática no estado, cumprindo sua função social. Em Florianópolis, por exemplo, movimentos estão se mobilizando para barrar a verticalização meramente especulativa e sem compromisso com a moradia como direito, com infraestrutura e serviços adequados, como na Armação, Pântano do Sul e Campeche. A pesquisa acadêmica precisa estar a serviço também destas demandas.

De modo geral, os espaços de participação são cada vez mais estreitos. Um exemplo foram as Audiências Públicas do Plano Diretor em Florianópolis em 2022/23. Muita gente falando, ninguém anotando e pouco ou nada do que foi dito apareceu no documento final. Mas a realização por si só de Audiências mal convocadas passa por participação popular quando a prefeitura defende seus interesses e os dos grupos dominantes. Quem é do movimento popular e atua nos chamados Conselhos de Direitos, onde deveria se concretizar a participação social prevista na Constituição Federal, também já percebeu que a energia gasta neles serve mais para referendar abusos e ilegalidades. 

Por isso, os mandatos populares, minoria nas Câmaras e na Assembleia Legislativa, precisam ampliar espaços de fiscalização, denúncia e formação. Hoje, esses mandatos também caem na lógica do “caça cliques” e da “lacração” nas redes sociais, onde tudo é efêmero. Porém, há que planejar ações para além da lógica imediatista imposta pelos algoritmos. 

É como aponta Eduardo Sá Barreto: investir em formação, denúncia e agitação, radicalizando as pessoas em luta: ‘Fazê-lo de maneira intencional e metódica, não de maneira entregue ao acaso ou à esperança de uma elevação geral espontânea de consciência da classe”. 

O poder fundiário usa de coação e coerção todos os dias, no campo e na cidade, para manter seus privilégios. Não é pelas redes sociais que será derrotado.

Para leitura:

BARRETO, Eduardo Sá. Pequeno guia para a crítica ecossocialista do capitalismo. Marília/SP: Lutas Anticapital, 2025. 

MEDEIROS, João de Deus. Campo de Altitude como Ecossistema Associado do Bioma Mata Atlântica. Conselho Regional de Biologia 9ª Região – SC. Disponível em: https://apremavi.org.br/parecer-alerta-para-riscos-na-restricao-de-protecao-dos-campos-de-altitude-em-santa-catarina/ . Acesso em: 10 set. 2025.

NOROEFÉ, Vitor Hugo. Geógrafa critica privilégios da discussão ambiental. Brasil de Fato. Disponível em: https://sosriosdobrasil.blogspot.com/2014/06/criticas-serias-da-geografa-maria.html. Acesso em: 10 set. 2025.

SCHINKE, Gert. O “poder fundiário” no Plano Diretor Participativo de Florianópolis. In: PERES, Lino Fernando Bragança. Confrontos na cidade: luta pelo plano diretor nos 20 anos do Estatuto da Cidade. ITCidades; Arq/UFSC: 2022. Disponível em: https://ldarq.paginas.ufsc.br/files/2022/03/ConfrontosnaCidade-vrtl.pdf. Acesso em: 10 set. 2025.

terça-feira, 22 de julho de 2025

COP 30 Brasil/Belém chegando sem debate nos cursos de jornalismo e na imprensa catarinense

 

Míriam Santini de Abreu, jornalista

A poucos meses da COP 30 Brasil/Belém, há algum curso de jornalismo em Santa Catarina discutindo a relação entre sociedade e natureza nas coberturas jornalísticas? Desconheço. 

O estado volta e meia experimenta eventos climáticos extremos, mas até agora também não vi um bom conjunto de reportagens sobre a inserção de Santa Catarina na COP 30 Brasil/Belém. 

Foi criada uma “Frente Parlamentar para o Fortalecimento da COP-30”, mas as poucas notícias sobre a atuação dos 14 deputados envolvidos reproduzem declarações elogiosas ao “modelo sustentável de produção” do estado e à perspectiva de abertura de negócios do “mercado de carbono”, como esta, no NSC Total: https://www.nsctotal.com.br/noticias/sc-quer-buscar-solucao-para-velho-problema-em-evento-mundial

Enquanto isso, na UFRGS está em plena produção de conhecimento o Laboratório de Comunicação Climática (@comclima.ufrgs) e, de 24 a 26 de setembro, será realizado o VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental, que terá como tema “A prevenção na pesquisa em Jornalismo Ambiental diante dos desastres”. O evento é uma realização do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental CNPq/UFRGS, com o apoio do PPGCOM/UFRGS e POSCOM/UFSM.

Nesta terça-feira (22), abro o site do Sul 21, do Brasil de Fato RS e do Matinal, exemplos de jornalismo independente do Rio Grande do Sul. Nos três, notícias ou reportagens na capa sobre temas ligados a conflitos urbanos e climáticos. A pauta era frequente nos veículos do estado vizinho mesmo antes do desastre climático que devastou o RS em 2024.

Ao contrário, na terra onde, em março de 2004, passou o Furacão Catarina, lamentavelmente falta apetite para a temática. Falta jornalismo. E ninguém parece se importar. 

terça-feira, 1 de julho de 2025

Florianópolis e “crescimento sustentável”, “exclusão social”, “qualidade de vida”: jornalismo e o esgoto da ideologia



Míriam Santini de Abreu, jornalista

O desafio de revirar a linguagem é urgente no jornalismo ambiental. Conceitos e discursos nascidos nos documentos dos anos 1970 para cá estão todos apodrecidos. Não podem ser usados! A saída: mergulhar no cotidiano, no vivido, para de lá trazer a palavra fresca, grávida de significados, agarrada com fazeres de fato entranhados na construção de um mundo onde a regra não seja mutilar a natureza toda em nome do lucro. É um grande desafio.

Digo isso porque no tal Summit Cidades 2025, encerrado ontem (26) em Florianópolis, foi criada uma “Frente Parlamentar do Desenvolvimento Urbano, do Mercado Imobiliário e da Indústria da Construção Civil”. Segundo notícia no site da Câmara de Vereadores de Florianópolis, oito vereadores – todos alinhados com o prefeito Topázio Neto – estão na tal Frente.

O objetivo é “debater políticas públicas para o crescimento sustentável da capital catarinense”. A Frente “pretende agir para evitar que o desenvolvimento urbano resulte em exclusão social e perda de qualidade de vida”. A ideia é “incentivar a elaboração de políticas que tornem a cidade mais justa, inclusiva e inteligente”.

Pois é: “crescimento sustentável”, “exclusão social”, “qualidade de vida”. São palavras/conceitos saindo da boca de quem está diuturnamente a serviço de um projeto de destruição da natureza, concretizado, em 2023, na aprovação de um plano diretor sob medida para os interesses da construção civil e nas dezenas de projetos que, de lá para cá, se alimentam da mesma lógica.

Então, essas palavras/conceitos se bandearam definitivamente para o esgoto da ideologia. Afastemo-nos dessas águas contaminadas por chorume.

Uma revolução, dizia Henri Lefebvre, para realizar todo seu potencial, precisa gerar efeitos na vida cotidiana, na linguagem e no espaço.

Cabe então aos jornalistas elucidar/desalienar a compreensão das disputas e conflitos no espaço geográfico e desacreditar os vendilhões da cidade travestidos de protetores da natureza e das populações empobrecidas.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Senado "passa a boiada" no ano da COP 30 no Brasil


Míriam Santini de Abreu, jornalista

Dei entrevista sábado (24/5) à jornalista Elaine Tavares no programa “Campo de Peixe”, da Rádio Comunitária Campeche, sobre a aprovação, no Senado, do PL 2.159/2021, conhecido como "PL da Devastação", que fragiliza o Licenciamento Ambiental, um dos pilares da Política Nacional do Meio Ambiente. Sem surpresa, os três senadores catarinenses votaram a favor do projeto, que agora volta à Câmara, onde nasceu (em 2004), em função das modificações (péssimas) incorporadas por senadores.

A Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) emitiu nota alertando para as mudanças e cobrando, da Presidência da República, que vete aqueles dispositivos que diretamente afrontam os princípios constitucionais ao deixar de assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Entidades em todo o país já estão se organizando para pressionar o Congresso e o presidente Lula pelo veto. O "PL da Devastação" é tido como um dos maiores retrocessos na legislação ambiental e a aprovação se dá no ano em que o Brasil vai sediar, em novembro, a Conferência do Clima da ONU, a COP Belém.

Santa Catarina vai padecer com as consequências da aprovação do projeto. O estado é um dos mais acometidos por eventos extremos, mas a maioria de vereadores, deputados estaduais e federais e senadores compactua com alterações nefastas na legislação ambiental e urbana.

Destaquei, na entrevista, que Santa Catarina está na vanguarda da destruição da legislação ambiental desde os governos de Luiz Henrique da Silveira, tendo tido atuação decisiva nas mudanças, para pior, no Código Ambiental e Florestal.

A entrevista está neste link: https://radiocampeche.com.br/a-lei-geral-do-licenciamento-ambiental-um-desastre-para-o-brasil/?fbclid=IwY2xjawKgVLZleHRuA2FlbQIxMQABHgl7Jcp9qNkCnC5jQ-ToavwoWUYOsiZD1f8S7MSC3aTz5YnDuY9ig31GyVkC_aem__Kc0hVvL3woK70TFZ_lwRA&sfnsn=wiwspwa

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Verticalização do litoral catarinense e a produção científica


Míriam Santini de Abreu, jornalista

O litoral catarinense vai virando um paliteiro de prédios para especulação imobiliária. A mudança nos planos diretores, como foi o caso de Florianópolis em 2023, favorece os negócios e se dá atropelando a participação popular. Em fevereiro, a imprensa local divulgou que a faixa de 100 km no litoral de SC concentra 4 das 5 cidades com os maiores preços de imóveis do país: Balneário Camboriú, Itapema, Itajaí e Florianópolis, segundo o índice Fipezap. Quem está estudando isto? 

Fiz uma pesquisa rápida e localizei 19 trabalhos. Deve haver mais. Um dos mais recentes é a dissertação de mestrado de Carolina Silva e Lima Schleder, intitulada “Capital e lei no processo recente de verticalização da Praia Central de Balneário Camboriú (SC)” (Universidade de São Paulo, 2024). 

Fui atrás de um livro que reunisse bons artigos sobre o processo de verticalização Florianópolis ao Sul e Florianópolis ao Norte, mas ainda não encontrei. É necessário e urgente reunir as pesquisas existentes e ampliar os estudos, localizar pontos em comum e especificidades, identificar a origem do dinheiro para tanta construção, analisar a (in)capacidade de suporte, o impacto socioambiental, a resistência popular. 

Todo o processo tem a ver com temas como a mudança na legislação ambiental (Códigos Ambiental e Florestal), o sucateamento de órgãos de fiscalização (IPUF e FLORAM em Florianópolis), privatizações e terceirizações. 

Está aí, portanto, um fenômeno que merece uma articulação de diferentes cursos e grupos de pesquisa nas universidades, em especial UFSC, UDESC e FURB. Na imprensa loca, tudo aparece sem conexão e carregado de ideologia, em especial a da “vocação turística”. Falta-nos também jornalismo graúdo para compreender o que está por trás do palavrório imobiliário que ilude a população. Porque, no final das contas, são prédios para especulação. Reina, nas cidades mencionadas, a falta de moradia para os trabalhadores, que penam para pagar alugueis abusivos.

As pesquisas que localizei estão em https://jornalismoambientalsc.blogspot.com/p/trabalhos-sobre-verticalizacao-no.html

sexta-feira, 25 de abril de 2025


Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

A divulgação, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da pesquisa “Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios” rendeu, nos meios de comunicação, pautas sobre os dados de arborização. Segundo o Instituto, 58,7 milhões de pessoas (33,7%) moram em vias sem arborização, enquanto 114,9 milhões (66,0%) vivem em vias com presença de árvores, sendo que 55,8 milhões (32,1%) estão em vias com 5 árvores ou mais. 

Na região Sul, duas situações chamaram a atenção: São José (SC) é o município de mais de 100 mil habitantes com menor percentual de moradores em vias com arborização (15,1%), enquanto Maringá, o maior (98,6%). Já Florianópolis está em 24º lugar, entre 27 capitais, no ranking das capitais mais arborizadas. A síntese da pesquisa está no link https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/43166-censo-2022-dois-em-cada-tres-brasileiros-moram-em-vias-sem-rampa-para-cadeirantes

Na mídia catarinense, o fato repercutiu no Portal NSC Total, do grupo que comprou as operações da RBS em Santa Catarina, mas, em 13 parágrafos, a notícia não traz uma só entrevista. Aparece citado apenas o próprio IBGE. O texto, intitulado “Florianópolis está entre as cidades menos arborizadas do país, aponta IBGE”, pode ser visto no link https://www.nsctotal.com.br/noticias/florianopolis-esta-entre-as-cidades-menos-arborizadas-do-pais-aponta-ibge . O Jornal do Almoço, do mesmo grupo, em notícia de 2 minutos e 23 segundos, limitou-se a apresentar os percentuais, também sem entrevistas, conforme o link https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/videos-jornal-do-almoco/video/arborizacao-em-areaas-urbanas-13537377.ghtml .

O Diarinho, periódico do município de Itajaí, noticiou o fato sob o título “SC tem segundo pior índice de arborização do país”, em https://diarinho.net/materia/661308/SC-tem-segundo-pior-indice-de-arborizacao-do-pais . O portal destaca que, entre as dez áreas urbanas com as menores taxas de arborização, Santa Catarina aparece com seis municípios, incluindo a capital, Florianópolis. O Diarinho traz, entre aspas, declaração de um analista do IBGE, mas não houve entrevista. É um trecho tirado da notícia publicada na Agência de Notícias do próprio instituto, também usada pelo Portal NSC Total, mas sem indicação de fonte. 

As notícias não fazem qualquer relação com os motivos pelos quais Santa Catarina aparece tão mal no ranking, não cobram do poder público medidas para melhorar o índice de arborização, mostrando as consequências do fato apontado pelo IBGE, ignoram pesquisas científicas em diferentes áreas de conhecimento sobre o assunto (SC tem universidade pública federal e estadual) e não relacionam a realidade do estado com as mudanças climáticas. Dada a atualidade e relevância da pesquisa do IBGE, foi uma oportunidade perdida de fazer boa cobertura jornalística de um tema de interesse de toda a população.

 



Míriam Santini de Abreu, jornalista

Aproveitei o feriadão para ler seis artigos sobre História Ambiental, surgida na década de 70 para tratar do papel e do lugar da natureza na vida humana, definição de Donald Worster no clássico “Para fazer História Ambiental”. Discussão rica para jornalistas interessados na área e que tem, na UFSC, o LABIMHA e, na FURB, o GPHAVI, ambos grupos de pesquisa.

É impressionante o esvaziamento da compreensão da natureza e do espaço no jornalismo catarinense. As empresas não investem em pautas e equipes e grandes jornalistas que entendiam do traçado se aposentaram ou se dedicam a outras áreas nos tortuosos caminhos da nossa profissão.

Não sei que formação sobre SC os estudantes levam do ensino médio para o curso de Jornalismo, e assim seria de grande valia alguma disciplina tratar da relação entre sociedade e natureza, a relação entre elas no jornalismo e o enlace disso tudo com a formação socioespacial catarinense.

Ando à busca de um bom livro sobre História Ambiental com artigos que tenham como estudo especificamente SC. Até agora localizei artigos, mas poucos tendo o litoral como área de interesse. Um livro nesta linha é “Desastres Socioambientais em Santa Catarina”, disponível em https://labimha.ufsc.br/). A produção do GPHAVI está em https://gphavi.blogspot.com/

É interessante o fato de a História Ambiental trabalhar com material jornalístico, e fico pensando no quão pouco irão encontrar, no futuro, nas pesquisas que farão sobre o tempo presente. Dois motivos: 1) pautas, notícias e reportagens estão cada vez mais desidratadas e irrelevantes; 2) não irão localizar conteúdos, dado que as empresas desprezam o cuidado com os acervos virtuais. Vai sendo tudo apagado com o passar do tempo, situação piorada diante do fim dos impressos. Mas cito o caso do ND, que ao menos disponibiliza, no seu portal, os jornais em PDF desde 2012.

Fica a sugestão para o LABIMHA e o GPHAVI oferecerem curso de História Ambiental voltado a jornalistas e organizar um livro com artigos que contemplem, com diferentes objetos de estudo, todas as regiões de SC.

Sobre jornalismo ambiental, reunimos a produção de SC neste blog, em https://jornalismoambientalsc.blogspot.com/p/pesquisas_99.html

Crise climática,. meio ambiente e o papel da classe trabalhadora em Santa Catarina

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