terça-feira, 9 de abril de 2024

Arborização e crise climática em pauta



Uma pauta pulando para o jornalismo ambiental em Santa Catarina: a reportagem intitulada “Em Belo Horizonte, arborização dos bairros repete padrão de desigualdade social comum a grandes cidades sul-americanas”, publicada em 21 de fevereiro no Jornal da UNESP.

A partir de mapeamento de mais de 250 mil árvores, afirma a reportagem, estudo analisou o acesso da população a áreas verdes e encontrou diferenças relacionadas a poder aquisitivo e até faixa etária: “Pesquisadores sustentam que, num contexto de mudanças climáticas, a infraestrutura verde de uma cidade se torna tão importante quanto a rede elétrica ou de saneamento”.

A pesquisadora Maria da Graça Agostinho foi entrevistada pelo Blog do Abraão, de Florianópolis, em matéria intitulada "Procura-se espaços de lazer na área continental de Florianópolis", com a seguinte abertura:

Cerca de 30% das áreas públicas disponíveis para espaços de lazer no Continente ainda não foram implementadas, conforme estudo coordenado pela professora arquiteta e urbanista Maria da Graça Agostinho, desenvolvido entre 2018 e 2021. Nos espaços já existentes, boa parte possui baixa qualidade, caracterizada por mobiliários mínimos e pouca vegetação. “Cerca de 50% das praças e parques foram percebidos como regular ou ruim”, afirma.

A entrevista completa, feita pela jornalista Márcia Quartiero, está em https://blogdoabraao.com.br/noticias/procura-se-espacos-de-lazer-na-area-continental-de-florianopolis/

A reportagem citada está em https://jornal.unesp.br/2024/02/21/em-belo-horizonte-arborizacao-dos-bairros-repete-padrao-de-desigualdade-social-comum-a-grandes-cidades-sul-americanas/

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Livro e blog sistematizam pesquisas e práticas de Jornalismo Ambiental em Santa Catarina


Por Míriam Santini de Abreu*

O conhecimento sobre o jornalismo ambiental em Santa Catarina é o objeto que a equipe da Revista Pobres & Nojentas, que desde 2006 atua em Florianópolis, vem buscando consolidar. A primeira iniciativa foi o lançamento, em dezembro de 2023, do livro “Território e texto: jornalismo ambiental em Santa Catarina”, com seis artigos de jornalistas que, em momentos de sua trajetória, escreveram sobre a relação entre sociedade e natureza no estado (https://tinyurl.com/9puwaaz).  A segunda foi a criação deste blog, em fevereiro passado, para reunir pesquisas na área e também sobre a história do movimento ambientalista estadual.

O primeiro levantamento do material localizado sobre jornalismo realizado pela revista revelou a existência de cinco Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs), seis dissertações, oito artigos e dois livros. A mais antiga pesquisa localizada foi a minha dissertação de mestrado em Geografia, de 2004, analisando o discurso jornalístico sobre o desenvolvimento sustentável. O mais recente, de 2024, é a dissertação de mestrado de Camila Collato intitulada “Jornalismo ambiental em Santa Catarina: direitos humanos e da natureza sob a perspectiva dos grupos RBS e NC”, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC.

As primeiras constatações provisórias com o levantamento foram as seguintes: 1) a revisão bibliográfica das pesquisas traz o conhecimento do jornalismo em geral e do jornalismo ambiental em particular, mas as pesquisas, independentemente da orientação teórico-metodológica e dos objetos empíricos, em geral não dialogam com trabalhos anteriores, ainda que poucos, produzidos no estado; 2) em minha dissertação, que completa 20 anos em 2024, afirmo que o espaço é constitutivo do discurso jornalístico sobre meio ambiente, mas verifica-se que as marcas da formação socioespacial catarinense praticamente não são levadas em conta nas análises.

A situação é incompatível com a realidade socioespacial tão diversa de Santa Catarina e a necessidade de um jornalismo que a interprete. O geógrafo Armen Mamigonian (2003) afirma que, no decorrer do processo histórico, delinearam-se em Santa Catarina três regiões industriais importantes identificadas como a região alemã, o Oeste agroindustrial e a região carbonífero-cerâmica do Sul. Cada uma dessas regiões lida com impactos ambientais comuns, como o desmatamento e a poluição do solo e da água, mas singulares na forma como se expressam no cotidiano da população. Porém, o jornalismo catarinense não tem abordado tão complexa realidade e parte expressiva das pesquisas localizadas também não leva em conta essas particularidades socioespaciais. 

A recente pesquisa de Camila Collato é importante por dialogar com trabalhos anteriores e revelar a situação da cobertura na atualidade, concluindo o seguinte: a) a cobertura privilegia uma constituição antropocêntrica de sentidos, apoiando-se em uma base científica moderna em relação ao meio ambiente, sendo este abordado majoritariamente por meio do dualismo humano x Natureza; b) é fragmentária, ao apresentar uma baixa interlocução entre áreas de conhecimento e saberes e; c) por vezes, é fatalista, ao furtar-se do papel de fomentador de um debate público crítico sobre responsabilidades e possíveis soluções diante dos problemas ambientais enfrentados pela população. A autora destaca anda a baixa participação dos cidadãos, com a predominância de fontes documentais e oficiais, e um jornalismo orientado para a construção de sentidos de apelo modernizante por meio de discursos econômicos de matriz capitalista.

Nas pesquisas para o livro lançado em 2023, a equipe da revista encontrou um artigo publicado em 25 de setembro de 2021 no Portal NSC Total com o seguinte título: “Lauro Bacca: Santa foi o primeiro jornal de Blumenau a abrir espaço à conscientização ambiental”. Bacca é ambientalista e presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), a primeira entidade ambientalista do estado. No artigo, Bacca conta que, em 1978 e 1979, apareceu o resultado da primeira parceria semiformal entre a Acaprena e o Santa. O Jornal de Santa Catarina, conhecido como O Santa, é sediado no município de Blumenau e pertence à NSC Comunicação, grupo para quem a empresa gaúcha RBS vendeu seus veículos no estado. O grupo NSC liquidou com as edições impressas semanais de seus jornais, restando apenas revista de final de semana.

Nos anos citados, 1978 e 1979, havia duas páginas inteiras dedicadas ao meio ambiente no Santa, publicadas nas edições de fim de semana com edição do jornalista Moacir Loth com o então diretor da Acaprena no cargo da presidência, Nélcio Lindner. Provavelmente trata-se de uma das primeiras iniciativas no país de uma editoria dedicada exclusivamente ao meio ambiente.

Atualmente, no estado, o site do jornal O Blumenauense tem uma aba específica denominada Meio Ambiente dentro do link Geral. A primeira notícia é datada de 11 de outubro de 2013. São, portanto, 10 anos de cobertura. O link é https://oblumenauense.com.br/tag/meio-ambiente/. A Folha Metropolitana, de Joinville, também exibe, no menu do site, o link Meio Ambiente, em https://www.folhametropolitana.com/meio-ambiente/. São iniciativas que merecem pesquisas específicas sobre conteúdos e discursos.

A conclusão desses esforços para consolidar o conhecimento sobre o jornalismo ambiental em Santa Catarina é que os dois grupos hegemônicos mais importantes de mídia no estado, NSC e ND, desconsideram a importância de interpretar jornalisticamente a grave realidade socioambiental regional, situação que vem se agravando com o enxugamento de profissionais nas redações, restando a pequenos sites de base local a iniciativa de manter editorias sobre o tema, ainda que não haja pesquisas direcionadas à analise do material divulgado.

Referência:

MAMIGONIAN, Armen. Projeto integrado de pesquisa: Santa Catarina – sociedade e natureza. Relatório final de pesquisa. Florianópolis, 2003. 

* Jornalista, doutora em Jornalismo, mestre em Geografia e especialista em Educação e Meio Ambiente

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Pesquisa analisa jornalismo ambiental em Santa Catarina com ênfase nos direitos humanos e da natureza sob a perspectiva dos grupos RBS e NC



A pesquisa mais recente sobre jornalismo ambiental em Santa Catarina acaba de ser disponibilizada no repositório institucional da UFSC. É a dissertação de mestrado de Camila Collato intitulada “Jornalismo ambiental em Santa Catarina: direitos humanos e da natureza sob a perspectiva dos grupos RBS e NC”, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC. 

Confira o resumo:

A presente pesquisa analisa os discursos das notícias e reportagens de jornalismo ambiental veiculadas nos jornais A Notícia (AN), Diário Catarinense (DC) e Jornal de Santa Catarina (JSC), no período de 2014 a 2018, em Santa Catarina (Brasil), últimos anos de circulação impressa diária regular destes periódicos no estado. Tal investigação objetiva compreender se os discursos presentes nos textos jornalísticos contribuem para a promoção de uma conscientização crítica e reflexiva dos leitores acerca dos temas pautados, conjugada socialmente à efetivação de direitos humanos básicos – à vida, a um ambiente ecologicamente equilibrado, por exemplo – e da Natureza. Para tanto, os procedimentos metodológicos estão divididos em duas etapas: a primeira, uma análise de conteúdo exploratória de 376 edições dos três jornais, a fim de obter uma amostragem representativa dos cinco anos contemplados pelo recorte temporal desta pesquisa, com a categorização das notícias e reportagens encontradas em sete identificadores temáticos e; a segunda, uma análise crítica do discurso (ACD) das três reportagens de jornalismo ambiental selecionadas a partir de critérios de pontuação qualitativa, sintetizados a partir da discussão teórica entre os autores e autoras referenciados nesta investigação. Esta última etapa examina sob quais referenciais e modos os conceitos e temas ambientais são elaborados e expressos nas reportagens e notícias de jornalismo ambiental no estado, os possíveis sentidos que emergem dessas interações entre seres humanos, não humanos e meio ambiente e as relações de poder potencialmente implícitas no contexto de produção jornalística. A partir dos resultados apresentados, foi possível considerar que o jornalismo ambiental, quando praticado pelos grupos econômicos de comunicação hegemônicos em Santa Catarina (RBS e NC) por meio do AN, DC e JSC: a) privilegia uma constituição antropocêntrica de sentidos, apoiando-se em uma base científica moderna em relação ao meio ambiente, sendo este abordado majoritariamente por meio do dualismo humano x Natureza; b) é fragmentário, ao apresentar uma baixa interlocução entre áreas de conhecimento e saberes e; c) por vezes, fatalista, ao furtar-se do papel de fomentador de um debate público crítico sobre responsabilidades e possíveis soluções diante dos problemas ambientais enfrentados pela população. Destaca-se ainda a baixa participação dos cidadãos, com a predominância de fontes documentais e oficiais, e um jornalismo ambiental orientado para a construção de sentidos de apelo modernizante por meio de discursos econômicos de matriz capitalista.

A dissertação pode ser encontrada em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/254439



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Livro conta oito experiências de jornalismo independente em Florianópolis


O livro “A rebelião do vivido no jornalismo independente de Florianópolis” é uma produção de 2020 da Revista Pobres & Nojentas e da Letra Editorial com organização da jornalista Míriam Santini de Abreu.

Os oito artigos do livro contam como foram as riquíssimas experiências que, desde os anos 1980, moveram e movem, na cidade, jornalistas comprometidos com o que se tem chamado de jornalismo independente/alternativo/contra-hegemônico. Com elas mostram-se a força e a capacidade de organização do movimento popular de Florianópolis e o jornalismo que deu e dá visibilidade a esses movimentos. São autores Ana Claudia Rocha Araujo, Anita Grando Martins, Claudia Weinman, Coletivo do Portal Catarinas, Dario de Almeida Prado Júnior, Elaine Tavares, Jeffrey Hoff e Míriam Santini de Abreu.

Estão contadas as rebeldias da Bernunça (anos 1980), da Folha da Lagoa (anos 1990), do jornal Guarapuvu, da Rádio Comunitária Campeche, da Pobres & Nojentas, do Portal Desacato (anos 2000), do Daqui na Rede e do Portal Catarinas (anos 2010).

Florianópolis precisa e merece que essas histórias – as nossas, as das e dos jornalistas rebeldes, a da cotidiana rebelião do vivido na cidade –, sejam lembradas, assim como as lutas populares que esses veículos têm narrado nas últimas quatro décadas.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Clima e eleições 2024


Artigo publicado na página do jornal britânico The Guardian no dia 7 de fevereiro tem muito a dizer ao jornalismo ambiental. O texto se refere ao contexto da eleição nos Estados Unidos e afirma o seguinte: “A imprensa cobre a campanha de 2024 como se o clima não estivesse nas urnas, mas 56% dos eleitores dos EUA estão ‘preocupados’ ou ‘alarmados’ com a crise”. O ano passado, observa o artigo, foi o mais quente de que há registo – e os cientistas alertam que a queima de petróleo, gás e carvão deve ser rapidamente eliminada se quisermos preservar um planeta habitável, mas jornalistas muitas vezes não relacionam um fato com o outro. 

Outro trecho:

Mas há uma mudança fácil de fazer: perguntar aos candidatos o que vão fazer em relação à crise climática; especificamente, qual é o seu plano para eliminar rapidamente o petróleo, o gás e o carvão, como a ciência diz ser imperativo. Os jornalistas também podem perguntar aos candidatos se estes recebem dinheiro da indústria dos combustíveis fósseis, o principal motor da crise climática; e pergunte aos candidatos quais soluções eles têm para os eleitores que sofrem com o calor mortal e outros extremos climáticos.

Em Santa Catarina, onde há espaço para isso e quem fará essas perguntas incômodas?

O artigo do The Guardian  está em https://www.theguardian.com/commentisfree/2024/feb/07/climate-change-presidential-election-media-coverage

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Pesquisas sobre jornalismo ambiental em Santa Catarina: constatações provisórias

Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

Fiz um primeiro levantamento do material localizado sobre jornalismo ambiental em Santa Catarina disponível em diferentes bases de dados. Foram 5 Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), 5 dissertações, 8 artigos e 2 livros.

O mais antigo localizado é a minha dissertação de mestrado em Geografia, de 2004, analisando o discurso jornalístico sobre o desenvolvimento sustentável. O mais recente, de 2021, é um TCC que analisa as práticas de jornalismo ambiental nos portais de notícias de Blumenau e região. Devo ampliar a busca para localizar trabalhos mais antigos e mais recentes.

Primeiras constatações provisórias: 1) a revisão bibliográfica das pesquisas traz o conhecimento do jornalismo em geral e do jornalismo ambiental em particular, mas as pesquisas, independentemente da orientação teórico-metodológica e dos objetos empíricos, não dialogam com trabalhos anteriores, ainda que poucos, produzidos no estado; 2) em minha dissertação, que completa 20 anos em 2024, afirmo que o espaço é constitutivo do discurso jornalístico sobre meio ambiente, mas verifica-se que as marcas da formação socioespacial catarinense praticamente não são levadas em conta nas análises.

Veja as pesquisas em: https://jornalismoambientalsc.blogspot.com/p/pesquisas_99.html

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Ensaio discute o método na reportagem jornalística para pensar o espaço


O ensaio "Jornalismo e espaço: método de reportagem", da jornalista Míriam Santini de Abreu, aponta elementos para um método de reportagem capaz de permitir ao jornalismo e aos jornalistas se situarem no espaço e no texto. Ele nasceu a partir da leitura de Adelmo Genro Filho, pesquisador e professor brasileiro criador de uma teoria marxista do jornalismo, e da obra de Henri Lefebvre, mostrando como o método regressivo-progressivo de Lefebvre pode contribuir para a construção de um método na reportagem capaz de alcançar, de forma crítica, as temporalidades e espacialidades com as quais os jornalistas lidam na cobertura jornalística do e no espaço. 

O ensaio está em: https://itcidades.org.br/wp-content/uploads/2023/12/ENSAIO_MIRIAM_SANTINI_DE_ABREU.pdf

Arborização e crise climática em pauta

Uma pauta pulando para o jornalismo ambiental em Santa Catarina: a reportagem intitulada “Em Belo Horizonte, arborização dos bairros repete ...