terça-feira, 1 de julho de 2025

Florianópolis e “crescimento sustentável”, “exclusão social”, “qualidade de vida”: jornalismo e o esgoto da ideologia



Míriam Santini de Abreu, jornalista

O desafio de revirar a linguagem é urgente no jornalismo ambiental. Conceitos e discursos nascidos nos documentos dos anos 1970 para cá estão todos apodrecidos. Não podem ser usados! A saída: mergulhar no cotidiano, no vivido, para de lá trazer a palavra fresca, grávida de significados, agarrada com fazeres de fato entranhados na construção de um mundo onde a regra não seja mutilar a natureza toda em nome do lucro. É um grande desafio.

Digo isso porque no tal Summit Cidades 2025, encerrado ontem (26) em Florianópolis, foi criada uma “Frente Parlamentar do Desenvolvimento Urbano, do Mercado Imobiliário e da Indústria da Construção Civil”. Segundo notícia no site da Câmara de Vereadores de Florianópolis, oito vereadores – todos alinhados com o prefeito Topázio Neto – estão na tal Frente.

O objetivo é “debater políticas públicas para o crescimento sustentável da capital catarinense”. A Frente “pretende agir para evitar que o desenvolvimento urbano resulte em exclusão social e perda de qualidade de vida”. A ideia é “incentivar a elaboração de políticas que tornem a cidade mais justa, inclusiva e inteligente”.

Pois é: “crescimento sustentável”, “exclusão social”, “qualidade de vida”. São palavras/conceitos saindo da boca de quem está diuturnamente a serviço de um projeto de destruição da natureza, concretizado, em 2023, na aprovação de um plano diretor sob medida para os interesses da construção civil e nas dezenas de projetos que, de lá para cá, se alimentam da mesma lógica.

Então, essas palavras/conceitos se bandearam definitivamente para o esgoto da ideologia. Afastemo-nos dessas águas contaminadas por chorume.

Uma revolução, dizia Henri Lefebvre, para realizar todo seu potencial, precisa gerar efeitos na vida cotidiana, na linguagem e no espaço.

Cabe então aos jornalistas elucidar/desalienar a compreensão das disputas e conflitos no espaço geográfico e desacreditar os vendilhões da cidade travestidos de protetores da natureza e das populações empobrecidas.

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