Por Míriam Santini de Abreu, jornalista
O evento ainda não terminou, mas, com a COP30, o que era ambiental na RIO92 agora virou climático. Jornalismo climático, justiça climática, emergência climática. Muito dinheiro vai jorrar para projetos que carregarem o "climático", como foi com o "ambiental" depois da RIO92. Eventos já pipocando, relatórios "climáticos" circulando, mas, analisando o caso de Santa Catarina, que conheço mais, falta dar "nome aos bois" responsáveis pela devastação das florestas, da água, do solo, articulando-se dentro do setor produtivo e suas entidades de classe, do governo, da Assembleia Legislativa, das prefeituras e câmaras.
Senti essa falta no relatório "A terra pede cuidado: contribuições de Santa Catarina em Tempo de Emergência Climática - Relatório das Contribuições Autodeterminadas para ação climática", levado à COP30 pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ALESC. Nas quase 70 páginas, não aparecem os sujeitos das ações nefastas apontadas. Como e contra quem lutar? Especialmente quando o relatório sai da Assembleia de onde partiram mudanças nefastas nos Códigos Ambiental e Florestal.
Neste e em outros estudos, diante da falência da educação ambiental, aparecem agora a educação ambiental crítica e a educação climática, paráfrases para contornar a falência educacional.
Não surpreende, no relatório, o fato de a comunicação ser citada em apenas dois parágrafos, mesmo sendo SC o estado com um dos piores cenários de mídia no país e a Alesc repassar milhares de reais ao ano para manter a rede Acaert e seu sistema pernicioso de comunicação. A maioria da população desconhece isso.
Neste quadro, o relatório vira um desenrolar de falas importantes e cheias de boa intenção, mas sem expor os sujeitos das perversidades ambientais e climáticas. É sintomático que as palavras capitalismo e agronegócio aparecem apenas quatro vezes no texto.
A partir de agora, com a palavra "climático" servindo, no discurso, para silenciar e apagar confrontos, gerando negócios a rodo, como ocorreu com o "ambiental", há que ficar de olho para perceber de onde e de quem virão os enfrentamentos reais.

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