quinta-feira, 16 de maio de 2024

Catástrofe climática e o Jornalismo de Ocorrência em Santa Catarina


Capa do caderno do Grupo NSC

Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

A proporção da catástrofe que se abate sobre o Rio Grande do Sul provoca uma pergunta: como Santa Catarina se prepara, levadas em conta suas próprias características socioespaciais, para enfrentar as consequências das mudanças climáticas? Procura em vão quem busca respostas nos grupos de mídia do estado. Esses grupos, organizados em associações, tecem seus interesses com as estruturas do estado, irrigando-se de dinheiro público e privado para fazer cada vez menos jornalismo. 

Parte expressiva do que virou a dita cobertura jornalística no estado vive de divulgação de BOs, os Boletins de Ocorrência. É um Jornalismo de Ocorrências, em que inexistem conexões entre elas e outras noticiadas antes ou depois, desprezando a compreensão de que não basta, no processo de mediação jornalística, limitar-se a ininterruptamente noticiar fatos sem inseri-los na totalidade dos fenômenos dos quais fazem parte e que os explicam.

A catástrofe no Rio Grande do Sul foi capa, por exemplo, do caderno do Grupo NSC (11 a 17 de maio) em abordagem previsível, a solidariedade: 

A SOLIDARIEDADE CATARINENSE

Santa Catarina se une para ajudar as vítimas da catástrofe climática que devastou o Rio Grande do Sul, deixou mais de 100 mortos, milhares de desabrigados e centenas de cidades tomadas pela água.

Quem estuda análise de discurso sabe que os sentidos se movimentam. Por vezes, uma mesma palavra, por estar inserida em diferentes formações discursivas, pode significar diferente, como no caso da palavra "terra" no discurso de um sem-terra ou de um latifundiário. Em outras vezes, palavras diferentes podem ter o mesmo sentido por se inscreveram em uma mesma formação discursiva. Isso é ilustrativo na pesquisa de MARIANI (2001) sobre os sentidos da solidariedade na mídia impressa. Ela verificou que a palavra forma uma rede parafrástica (de paráfrases) que inclui “caridade", "ajuda” "filantropia", "novas faces do bem” e “mão estendida". Apesar de serem palavras diferentes, a autora observa que na mídia o que pode resvalar para a produção de diferentes eleitos de sentidos muitas vezes se fecha em sentidos atomizados, produzindo ilusões de consenso social (p. 43). 

De modo geral, as coberturas sobre o Rio Grande do Sul mostram a ação dos solidários e solidárias e a ininterrupta videoteca da tragédia cotidiana nas cidades gaúchas destruídas. Mas por que a catástrofe ocorreu na relação com sucessivos crimes ambientais? Quem são os responsáveis? Leitores, ouvintes e telespectadores não terão respostas satisfatórias nesses grupos de mídia.

Essa ausência, na perspectiva de Santa Catarina, grita em um exemplo impactante. Uma notícia de fevereiro passado no site do Tribunal de Contas de Santa Catarina revela que cerca de 3 mil áreas de 100 municípios do estado têm maior risco de deslizamentos de solo e de inundações (1). O levantamento realizado apontou o seguinte:

- ausência de órgãos de proteção e defesa civil formalizados em 13 deles

- ausência de Fundo Municipal de Proteção e Defesa Civil (Fumdec) em 49 municípios

- ausência de Plano Municipal de Contingência (Plamcon) em 34

- ausência de locais cadastrados para uso como abrigos em 31 cidades

- 79 não realizam exercícios simulados conforme o Plamcon, ou seja, apenas 19 realizam 

- ausência de canais de comunicação com as famílias que residem em áreas de risco em 55 municípios 

- 74 municípios com áreas de risco mapeadas afirmaram não possuir cadastro das famílias residentes em áreas de risco

- ausência de fiscalização periódica das áreas com riscos de desastres por 36 cidades

- 72 municípios disseram que o art. 42-A da Lei 10.257/2001 — Estatuto da Cidade — não foi observado na edição ou na revisão do Plano Diretor

A notícia foi reproduzida de forma protocolar em sites noticiosos de Santa Catarina. Os dados não mereceram investigação, e são ainda mais alarmantes quando associados a um fato divulgado no “SC em Pauta” em 22 de fevereiro de 2024: mesmo sendo um estado propenso a diversos eventos climáticos extremos, Santa Catarina não tem um quadro efetivo na Defesa Civil. O órgão é formado basicamente por comissionados, terceirizados e alguns servidores cedidos, sendo nomeados como cargo de confiança (2).

Estão aí aspectos da pauta até agora invisibilizada nesse Jornalismo de Ocorrências. E isso sem contar o papel de Santa Catarina na destruição da legislação ambiental federal, iniciada nos mandatos do governador Luiz Henrique da Silveira, analisada brevemente em artigo intitulado “Código Florestal Brasileiro e Código Ambiental de Santa Catarina: legislação a favor do lucro” (3). Assim como fez o Rio Grande do Sul, Santa Catarina alterou o Código Ambiental em 2009 e em 2022. Uma análise dos retrocessos do novo código pode se lida na página da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) (4).

O resultado dessas mudanças aparecerá. E pegará a população (e o jornalismo) de surpresa.

A SITUAÇÃO DA MÍDIA EM SANTA CATARINA

Não há um diagnóstico recente e público da mídia em Santa Catarina para permitir uma análise mais detalhada e de interesse para jornalistas, professores e estudantes de jornalismo e interessados no apagão de coberturas fundamentais para o estado. Uma parte do diagnóstico aparece em artigo de Giovanni Ramos e Magali Moser, de junho de 2023, intitulado “O triste fim dos três grandes jornais catarinenses” (5). Ele mostra como sucumbiram três marcas regionais históricas: Diário Catarinense, A Notícia e Jornal de Santa Catarina

Há um aspecto da realidade regional que merece pesquisa profunda: o montante de recursos públicos que jorra para a Acaert (Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão) e a Associação dos Jornais do Interior de Santa Catarina (Adjori-SC). A Acaert  representa 260 emissoras de rádio e 24 emissoras de televisão associadas, congregando 100% das emissoras comerciais e educativas de Santa Catarina. A Adjori tem 104 empresas jornalísticas associadas, circulando em praticamente todos os 295 municípios de Santa Catarina.

Entre 2017 e 2019, foi criada e vendida como a maior campanha social de Santa Catarina a campanha da Acaert JEITO CATARINENSE, que mobilizou milhares de catarinenses em torno dos conceitos básicos de “cidadania”. A iniciativa contou com a parceria de instituições públicas e privadas tendo com um dos temas principais, por exemplo, uma campanha A FAVOR DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA (6). A reforma perversa, no governo Bolsonaro, atendeu o interesse empresarial e tem seus efeitos apresentados em uma série de artigos disponíveis para consulta na internet.

Entre 2020 e 2022, a Acaert assinou convênio inédito com o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e o Tribunal de Contas, além da manutenção e aprimoramento do convênio com a Secom (governo do estado) e a Assembleia Legislativa (Alesc). Ou seja, há um enlaçamento da Acaert com todas as estruturas de poder do estado. 

Para compreender o tamanho desse enlaçamento, um exemplo foi a renovação, em 2020, do convênio Alesc e Acaert para divulgação de notícias do Legislativo em todas as emissoras de rádio e televisão do estado.

O contrato está disponível em link no final deste artigo (7). Ele não menciona valores, mas basta uma procura rápida no site da Alesc para localizar centenas de contratos. A palavra “rádio” traz 41 páginas com contratos (8). Algumas perguntas merecem resposta:

-Quanto somam os contratos ao longo de cinco anos de repasses para um convênio no qual a Acaert indica os beneficiários?

-Quanto a Alesc destina para veículos consolidados de mídia independente e fora da alçada da Acaert e da Adjori, como, em Florianópolis, por exemplo, o Portal Desacato e o Portal Catarinas?  

Ou o dinheiro que irriga Francisco para defender a Reforma da Previdência não irriga Chico para mostrar seus efeitos nefastos?

Além dessas indagações, seriam relevantes análises sobre o conteúdo do material produzido pela Alesc distribuído por essas rádios e sobre o conteúdo geral produzido por elas. Se existem, não foram localizados. Mas um rápido giro pelo noticiário revela que, do ponto de vista jornalístico, não respeitam sequer a regra mais básica do jornalismo liberal, que é “ouvir o outro lado”, cotidianamente criminalizando as lutas populares e sindicais. Estão aí temas gritando por pesquisas de mestrado e doutorado.

É importante destacar que os grupos de mídia de Santa Catarina também recebem recursos públicos vindos das prefeituras para divulgação dita institucional, montante igualmente desconhecido. 

Não nos enganemos. O cenário aqui esboçado é um projeto gestado e cuidadosamente mantido por quem lucra com a mentira, a ideologia e a desinformação. Resta-nos revelar o que se vê pelas frestas. E recordar das palavras do jornalista Marcos Faerman, sempre:

Manifesto de libertação da palavra. 

A busca de uma realidade exige uma linguagem capaz de captá-la. Esta linguagem não é uma fuga. É o único caminho para nos levar à débil captação de uma sociedade e de suas contradições. E da única coisa que interessa: o ser humano sufocado em sua vontade de ser.


Notas:

1-https://www.tcesc.tc.br/levantamento-do-tcesc-revela-que-municipios-catarinenses-com-areas-de-risco-de-deslizamentos-e

2-https://scempauta.com.br/2024/03/22/mp-pede-explicacao-sobre-servidores-da-defesa-civil-governo-pagara-gratificacao-a-quem-atuar-na-dc-ub-se-aproxima-do-pl-em-blumenau-entre-outros-destaques/

3-https://ojs.sites.ufsc.br/index.php/rebela/article/view/2770

4-https://apremavi.org.br/mpsc-ajuiza-acoes-para-impedir-alteracoes-no-codigo-ambiental-de-sc/

5-https://objethos.wordpress.com/2023/06/15/o-triste-fim-dos-tres-grandes-jornais-catarinenses/

6-https://www.acaert.com.br/noticia/39317/acaert-lanca-campanha-em-favor-da-reforma-da-previdencia-no-estado-e-nos-municipios-catarinenses

7-https://spectro.alesc.sc.gov.br/contratos/contrato/2626/download

8-https://transparencia.alesc.sc.gov.br/contrato.php?pagina=1&ano=&numero_contrato=&objeto=&contratada=r%E1dio&cpf_cnpj=&status=&tipo_contrato_id=&modalidade_id=Todas&valor_min=&valor_max=


Referência:

MARIANI, Bethania. Questões sobre a solidariedade. In: ORLANDI, Eni P. (Org.). Cidade atravessada. Os sentidos públicos no espaço urbano. Campinas: Pontes, 2001.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Eduardo Leite e hora dos culpados

Míriam Santini de Abreu, jornalista

“Não é hora de procurar culpados”, afirmou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, em coletiva de imprensa no domingo, dia 5, ao lado de Lula e representante do poder legislativo, quando foram anunciadas medidas frente à catástrofe que se abate sobre o estado vizinho (1). O artigo explora elementos para compreender a voracidade do capital imobiliário, o papel de prefeitos e governadores e o que a mídia tem a ver com isso, para quando chegar a hora dos culpados (chegará?).

O resgate de um cavalo caramelo ilhado sobre um telhado virou símbolo da conta que o Rio Grande está pagando por décadas de descuido planejado contra a natureza. Mas há outro símbolo tão ou mais potente. Ele aparece em uma notícia publicada no site da Prefeitura de Porto Alegre. É uma foto (abaixo) que exibe 11 rostos sorridentes, entre eles o de Leite, do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, e do vice, Ricardo Gomes, no leilão da Bolsa de Valores de São Paulo ocorrido em 6 de fevereiro passado que confirmou investimento de R$ 350 milhões no Cais Mauá graças a uma parceria-público-privada (PPP) (2). A palavra que define o empreendimento é bem conhecida em Florianópolis, “revitalização”, e o projeto, também na foto abaixo, não é diferente das banalidades construtivas vendidas no litoral catarinense como excepcionalidades quando excepcional mesmo é a paisagem agora irreconhecível e prestes a ser privatizada. A imagem do projeto está em uma reportagem do Portal G1-RS publicada no final de 2021 saudando a iniciativa (3). O “Coletivo Cais Cultural Já” lançou nota criticando o leilão do Cais do Porto, defendendo proposta alternativa de promoção de atividades culturais sem necessidade de privatização da área (4). 

Extraído do site da Prefeitura de Porto Alegre


Extraído de reportagem do Portal G1-RS 


Lá em 2019, um artigo de Opinião no GZH assinado pelo arquiteto Anthony Ling, editor do site Caos Planejado, clamava: "Prefeito, derrube o muro da Mauá!" (5). Vale citar um trecho: “O risco que deve se levar em consideração é de uma lâmina de centímetros de água a cada meio século, dado que a chance de uma enchente como a de 1941 é de uma vez a cada 1,500 anos. Atingir a altura ainda maior do atual Muro da Mauá é próximo do impossível”. 

O muro da Mauá integra o sistema de proteção de Porto Alegre e foi construído depois da grande enchente de 1941. Várias reportagens nos últimos dias mostraram falhas no sistema, as quais, neste triste maio de 2024, pioraram a situação de Porto Alegre (6).

O papel da administração de Leite e Melo na catástrofe ainda está por ser contado, mas boas pistas aparecem em notícias no site da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), que completou 50 anos em 2021. Uma delas teve repercussão no combativo veículo de mídia independente Sul21, mostrando, por exemplo, que no primeiro mandato, em 2020, Leite aprovou na Assembleia Legislativa a Lei 15.434, chamada de "Novo Código Estadual do Meio Ambiente", suprimindo ou flexibilizando mais de 500 artigos e incisos do Código Estadual criado em 2000 e afrouxando regras de proteção ambiental dos biomas Pampa e Mata Atlântica (7). Essa é apenas uma das medidas do governador citadas na reportagem, todas com alto potencial de impacto ambiental negativo no estado. 

É neste quadro que deve ser lida a notícia no GZH segundo a qual empresários sugeriram a Leite buscar especialista em catástrofes para ajudar na reconstrução do estado (8). Segundo a notícia, tal especialista seria pessoa ou empresa, sendo citado o exemplo da reconstrução de New Orleans, nos Estados Unidos, depois da passagem do furacão Katrina, em 2005. Caso a ideia avance, sugeriram os empresários, seria constituída uma parceria público-privada (PPP) para executar o projeto, além de usar os recursos federais prometidos (8). Isso em um estado com várias universidades federais onde se acumulam pesquisas fundamentais para sinalizar outro caminho de reconstrução das cidades. Mas tragédias deste alcance sempre rendem grandes negócios e grandes parcerias.

Nos últimos dias, na maior parte da cobertura jornalística da mídia hegemônica, a que chega à maioria da população, a lógica operada é aquela apontada por Perseu Abramo em seu clássico texto “Padrões de manipulação na grande imprensa” (9):

1-Padrão de ocultação  um deliberado silêncio sobre determinados fatos da realidade.

2-Padrão de fragmentação – o todo real é estilhaçado, despedaçado, fragmentado em milhões de minúsculos fatos particularizados, na maior parte dos casos desconectados entre si, despojados de seus vínculos com o geral, desligados de seus antecedentes e de seus consequentes no processo em que ocorrem, ou reconectados e revinculados de forma arbitrária e que não corresponde aos vínculos reais, mas a outros ficcionais, e artificialmente inventados.

3-Padrão da inversão – fragmentado o fato em aspectos particulares, todos eles descontextualizados, esse padrão opera o reordenamento das partes, a troca de lugares e de importância dessas partes, a substituição de umas por outras e prossegue, assim, com a destruição da realidade original e a criação artificial da outra realidade.

4-Padrão da indução – a hábil combinação dos casos, dos momentos, das formas e dos graus de distorção da realidade submete, no geral e no seu conjunto, a população à condição de ser excluída da possibilidade de ver e compreender a realidade real e a consumir uma outra realidade, artificialmente inventada.

Segundo Abramo, o jornalismo de radiodifusão (TV e rádio) adota ainda um padrão que se divide em três momentos básicos, como se fossem três atos de um espetáculo, de um jogo de cena:

1 – O Primeiro Momento, ou 1ª Ato, é o da Exposição do Fato. Submetido a todos os padrões gerais de manipulação, o fato é apresentado sob os seus ângulos menos racionais e mais emocionais, mais espetaculares e mais sensacionalistas. 

2 – O Segundo Momento, ou 2º Ato, é o da Sociedade Fala. As imagens e sons mostram detalhes e particulares, principalmente dos personagens envolvidos. Eles apresentam seus testemunhos, suas dores e alegrias, seus apoios e críticas, suas queixas e propostas.

3 – O Terceiro Momento, ou 3º Ato, é o da Autoridade Resolve. Se se trata de um fato “natural” (incêndio, tempestade, enchente), a autoridade anuncia as providências, isto é, as soluções já tomadas ou prestes a serem tomadas. Se se trata de fato social, a autoridade reprime o Mal e enaltece o Bem, e também anuncia as soluções já tomadas ou a tomar para as duas situações. Ou seja, tudo está se resolvendo. Não é preciso mudar o rumo.

Na atual enxurrada informativa sobre o horror no Rio Grande do Sul, raros e de baixa visibilidade e audiência serão os veículos a ligar os pontos para mostrar que a catástrofe não é “natural”. 

Tomara que os movimentos populares e sindicais do Rio Grande do Sul elaborem e distribuam aos milhares materiais impressos ligando os pontos e rompendo a lógica dos padrões apontados por Abramo. Não adianta desvendar esses fatos na internet. Como aconteceu com o Orkut, todas as postagens hoje fundamentais para compreender a catástrofe um dia virarão pó de algoritmos. A lembrança será a da Fúria da Natureza, e não a lembrança da Fúria dos que a destroem.

É nesse sentido que Eduardo Leite está certo. Não é preciso procurar os culpados.


Links: 

1-https://www.cartacapital.com.br/politica/nao-e-hora-de-procurar-culpados-pela-tragedia-no-rio-grande-do-sul-diz-eduardo-leite/

2-https://prefeitura.poa.br/gp/noticias/leilao-confirma-investimento-de-r-350-milhoes-no-cais-maua

3-https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/11/25/projeto-de-revitalizacao-do-cais-maua-e-apresentado-em-porto-alegre-veja-imagens.ghtml

4-https://www.brasildefators.com.br/2024/02/09/coletivos-lancam-nota-criticando-o-leilao-do-cais-maua-de-porto-alegre

5-https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/noticia/2019/04/prefeito-derrube-o-muro-da-maua-cjux1bhv0012501ro08y91nga.html

6-https://www.brasildefato.com.br/2024/05/06/falhas-na-manutencao-do-sistema-de-protecao-teriam-agravado-a-maior-inundacao-da-historia-de-porto-alegre

7-https://sul21.com.br/noticias/meio-ambiente/2024/05/tragedia-historica-expoe-o-quanto-governo-leite-ignora-alertas-e-atropela-politica-ambiental/

8-https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/marta-sfredo/noticia/2024/05/empresarios-sugerem-a-leite-buscar-especialista-em-catastrofes-para-ajudar-na-reconstrucao-do-rs-clvx2qjbt00e8011ht8q0yk5w.html

9-https://biblioteca.clacso.edu.ar/Brasil/fpa/20170912055155/pdf_1475.pdf

terça-feira, 9 de abril de 2024

Arborização e crise climática em pauta



Uma pauta pulando para o jornalismo ambiental em Santa Catarina: a reportagem intitulada “Em Belo Horizonte, arborização dos bairros repete padrão de desigualdade social comum a grandes cidades sul-americanas”, publicada em 21 de fevereiro no Jornal da UNESP.

A partir de mapeamento de mais de 250 mil árvores, afirma a reportagem, estudo analisou o acesso da população a áreas verdes e encontrou diferenças relacionadas a poder aquisitivo e até faixa etária: “Pesquisadores sustentam que, num contexto de mudanças climáticas, a infraestrutura verde de uma cidade se torna tão importante quanto a rede elétrica ou de saneamento”.

A pesquisadora Maria da Graça Agostinho foi entrevistada pelo Blog do Abraão, de Florianópolis, em matéria intitulada "Procura-se espaços de lazer na área continental de Florianópolis", com a seguinte abertura:

Cerca de 30% das áreas públicas disponíveis para espaços de lazer no Continente ainda não foram implementadas, conforme estudo coordenado pela professora arquiteta e urbanista Maria da Graça Agostinho, desenvolvido entre 2018 e 2021. Nos espaços já existentes, boa parte possui baixa qualidade, caracterizada por mobiliários mínimos e pouca vegetação. “Cerca de 50% das praças e parques foram percebidos como regular ou ruim”, afirma.

A entrevista completa, feita pela jornalista Márcia Quartiero, está em https://blogdoabraao.com.br/noticias/procura-se-espacos-de-lazer-na-area-continental-de-florianopolis/

A reportagem citada está em https://jornal.unesp.br/2024/02/21/em-belo-horizonte-arborizacao-dos-bairros-repete-padrao-de-desigualdade-social-comum-a-grandes-cidades-sul-americanas/

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Livro e blog sistematizam pesquisas e práticas de Jornalismo Ambiental em Santa Catarina


Por Míriam Santini de Abreu*

O conhecimento sobre o jornalismo ambiental em Santa Catarina é o objeto que a equipe da Revista Pobres & Nojentas, que desde 2006 atua em Florianópolis, vem buscando consolidar. A primeira iniciativa foi o lançamento, em dezembro de 2023, do livro “Território e texto: jornalismo ambiental em Santa Catarina”, com seis artigos de jornalistas que, em momentos de sua trajetória, escreveram sobre a relação entre sociedade e natureza no estado (https://tinyurl.com/9puwaaz).  A segunda foi a criação deste blog, em fevereiro passado, para reunir pesquisas na área e também sobre a história do movimento ambientalista estadual.

O primeiro levantamento do material localizado sobre jornalismo realizado pela revista revelou a existência de cinco Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs), seis dissertações, oito artigos e dois livros. A mais antiga pesquisa localizada foi a minha dissertação de mestrado em Geografia, de 2004, analisando o discurso jornalístico sobre o desenvolvimento sustentável. O mais recente, de 2024, é a dissertação de mestrado de Camila Collato intitulada “Jornalismo ambiental em Santa Catarina: direitos humanos e da natureza sob a perspectiva dos grupos RBS e NC”, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC.

As primeiras constatações provisórias com o levantamento foram as seguintes: 1) a revisão bibliográfica das pesquisas traz o conhecimento do jornalismo em geral e do jornalismo ambiental em particular, mas as pesquisas, independentemente da orientação teórico-metodológica e dos objetos empíricos, em geral não dialogam com trabalhos anteriores, ainda que poucos, produzidos no estado; 2) em minha dissertação, que completa 20 anos em 2024, afirmo que o espaço é constitutivo do discurso jornalístico sobre meio ambiente, mas verifica-se que as marcas da formação socioespacial catarinense praticamente não são levadas em conta nas análises.

A situação é incompatível com a realidade socioespacial tão diversa de Santa Catarina e a necessidade de um jornalismo que a interprete. O geógrafo Armen Mamigonian (2003) afirma que, no decorrer do processo histórico, delinearam-se em Santa Catarina três regiões industriais importantes identificadas como a região alemã, o Oeste agroindustrial e a região carbonífero-cerâmica do Sul. Cada uma dessas regiões lida com impactos ambientais comuns, como o desmatamento e a poluição do solo e da água, mas singulares na forma como se expressam no cotidiano da população. Porém, o jornalismo catarinense não tem abordado tão complexa realidade e parte expressiva das pesquisas localizadas também não leva em conta essas particularidades socioespaciais. 

A recente pesquisa de Camila Collato é importante por dialogar com trabalhos anteriores e revelar a situação da cobertura na atualidade, concluindo o seguinte: a) a cobertura privilegia uma constituição antropocêntrica de sentidos, apoiando-se em uma base científica moderna em relação ao meio ambiente, sendo este abordado majoritariamente por meio do dualismo humano x Natureza; b) é fragmentária, ao apresentar uma baixa interlocução entre áreas de conhecimento e saberes e; c) por vezes, é fatalista, ao furtar-se do papel de fomentador de um debate público crítico sobre responsabilidades e possíveis soluções diante dos problemas ambientais enfrentados pela população. A autora destaca anda a baixa participação dos cidadãos, com a predominância de fontes documentais e oficiais, e um jornalismo orientado para a construção de sentidos de apelo modernizante por meio de discursos econômicos de matriz capitalista.

Nas pesquisas para o livro lançado em 2023, a equipe da revista encontrou um artigo publicado em 25 de setembro de 2021 no Portal NSC Total com o seguinte título: “Lauro Bacca: Santa foi o primeiro jornal de Blumenau a abrir espaço à conscientização ambiental”. Bacca é ambientalista e presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), a primeira entidade ambientalista do estado. No artigo, Bacca conta que, em 1978 e 1979, apareceu o resultado da primeira parceria semiformal entre a Acaprena e o Santa. O Jornal de Santa Catarina, conhecido como O Santa, é sediado no município de Blumenau e pertence à NSC Comunicação, grupo para quem a empresa gaúcha RBS vendeu seus veículos no estado. O grupo NSC liquidou com as edições impressas semanais de seus jornais, restando apenas revista de final de semana.

Nos anos citados, 1978 e 1979, havia duas páginas inteiras dedicadas ao meio ambiente no Santa, publicadas nas edições de fim de semana com edição do jornalista Moacir Loth com o então diretor da Acaprena no cargo da presidência, Nélcio Lindner. Provavelmente trata-se de uma das primeiras iniciativas no país de uma editoria dedicada exclusivamente ao meio ambiente.

Atualmente, no estado, o site do jornal O Blumenauense tem uma aba específica denominada Meio Ambiente dentro do link Geral. A primeira notícia é datada de 11 de outubro de 2013. São, portanto, 10 anos de cobertura. O link é https://oblumenauense.com.br/tag/meio-ambiente/. A Folha Metropolitana, de Joinville, também exibe, no menu do site, o link Meio Ambiente, em https://www.folhametropolitana.com/meio-ambiente/. São iniciativas que merecem pesquisas específicas sobre conteúdos e discursos.

A conclusão desses esforços para consolidar o conhecimento sobre o jornalismo ambiental em Santa Catarina é que os dois grupos hegemônicos mais importantes de mídia no estado, NSC e ND, desconsideram a importância de interpretar jornalisticamente a grave realidade socioambiental regional, situação que vem se agravando com o enxugamento de profissionais nas redações, restando a pequenos sites de base local a iniciativa de manter editorias sobre o tema, ainda que não haja pesquisas direcionadas à analise do material divulgado.

Referência:

MAMIGONIAN, Armen. Projeto integrado de pesquisa: Santa Catarina – sociedade e natureza. Relatório final de pesquisa. Florianópolis, 2003. 

* Jornalista, doutora em Jornalismo, mestre em Geografia e especialista em Educação e Meio Ambiente

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Pesquisa analisa jornalismo ambiental em Santa Catarina com ênfase nos direitos humanos e da natureza sob a perspectiva dos grupos RBS e NC



A pesquisa mais recente sobre jornalismo ambiental em Santa Catarina acaba de ser disponibilizada no repositório institucional da UFSC. É a dissertação de mestrado de Camila Collato intitulada “Jornalismo ambiental em Santa Catarina: direitos humanos e da natureza sob a perspectiva dos grupos RBS e NC”, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC. 

Confira o resumo:

A presente pesquisa analisa os discursos das notícias e reportagens de jornalismo ambiental veiculadas nos jornais A Notícia (AN), Diário Catarinense (DC) e Jornal de Santa Catarina (JSC), no período de 2014 a 2018, em Santa Catarina (Brasil), últimos anos de circulação impressa diária regular destes periódicos no estado. Tal investigação objetiva compreender se os discursos presentes nos textos jornalísticos contribuem para a promoção de uma conscientização crítica e reflexiva dos leitores acerca dos temas pautados, conjugada socialmente à efetivação de direitos humanos básicos – à vida, a um ambiente ecologicamente equilibrado, por exemplo – e da Natureza. Para tanto, os procedimentos metodológicos estão divididos em duas etapas: a primeira, uma análise de conteúdo exploratória de 376 edições dos três jornais, a fim de obter uma amostragem representativa dos cinco anos contemplados pelo recorte temporal desta pesquisa, com a categorização das notícias e reportagens encontradas em sete identificadores temáticos e; a segunda, uma análise crítica do discurso (ACD) das três reportagens de jornalismo ambiental selecionadas a partir de critérios de pontuação qualitativa, sintetizados a partir da discussão teórica entre os autores e autoras referenciados nesta investigação. Esta última etapa examina sob quais referenciais e modos os conceitos e temas ambientais são elaborados e expressos nas reportagens e notícias de jornalismo ambiental no estado, os possíveis sentidos que emergem dessas interações entre seres humanos, não humanos e meio ambiente e as relações de poder potencialmente implícitas no contexto de produção jornalística. A partir dos resultados apresentados, foi possível considerar que o jornalismo ambiental, quando praticado pelos grupos econômicos de comunicação hegemônicos em Santa Catarina (RBS e NC) por meio do AN, DC e JSC: a) privilegia uma constituição antropocêntrica de sentidos, apoiando-se em uma base científica moderna em relação ao meio ambiente, sendo este abordado majoritariamente por meio do dualismo humano x Natureza; b) é fragmentário, ao apresentar uma baixa interlocução entre áreas de conhecimento e saberes e; c) por vezes, fatalista, ao furtar-se do papel de fomentador de um debate público crítico sobre responsabilidades e possíveis soluções diante dos problemas ambientais enfrentados pela população. Destaca-se ainda a baixa participação dos cidadãos, com a predominância de fontes documentais e oficiais, e um jornalismo ambiental orientado para a construção de sentidos de apelo modernizante por meio de discursos econômicos de matriz capitalista.

A dissertação pode ser encontrada em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/254439



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Livro conta oito experiências de jornalismo independente em Florianópolis


O livro “A rebelião do vivido no jornalismo independente de Florianópolis” é uma produção de 2020 da Revista Pobres & Nojentas e da Letra Editorial com organização da jornalista Míriam Santini de Abreu.

Os oito artigos do livro contam como foram as riquíssimas experiências que, desde os anos 1980, moveram e movem, na cidade, jornalistas comprometidos com o que se tem chamado de jornalismo independente/alternativo/contra-hegemônico. Com elas mostram-se a força e a capacidade de organização do movimento popular de Florianópolis e o jornalismo que deu e dá visibilidade a esses movimentos. São autores Ana Claudia Rocha Araujo, Anita Grando Martins, Claudia Weinman, Coletivo do Portal Catarinas, Dario de Almeida Prado Júnior, Elaine Tavares, Jeffrey Hoff e Míriam Santini de Abreu.

Estão contadas as rebeldias da Bernunça (anos 1980), da Folha da Lagoa (anos 1990), do jornal Guarapuvu, da Rádio Comunitária Campeche, da Pobres & Nojentas, do Portal Desacato (anos 2000), do Daqui na Rede e do Portal Catarinas (anos 2010).

Florianópolis precisa e merece que essas histórias – as nossas, as das e dos jornalistas rebeldes, a da cotidiana rebelião do vivido na cidade –, sejam lembradas, assim como as lutas populares que esses veículos têm narrado nas últimas quatro décadas.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Clima e eleições 2024


Artigo publicado na página do jornal britânico The Guardian no dia 7 de fevereiro tem muito a dizer ao jornalismo ambiental. O texto se refere ao contexto da eleição nos Estados Unidos e afirma o seguinte: “A imprensa cobre a campanha de 2024 como se o clima não estivesse nas urnas, mas 56% dos eleitores dos EUA estão ‘preocupados’ ou ‘alarmados’ com a crise”. O ano passado, observa o artigo, foi o mais quente de que há registo – e os cientistas alertam que a queima de petróleo, gás e carvão deve ser rapidamente eliminada se quisermos preservar um planeta habitável, mas jornalistas muitas vezes não relacionam um fato com o outro. 

Outro trecho:

Mas há uma mudança fácil de fazer: perguntar aos candidatos o que vão fazer em relação à crise climática; especificamente, qual é o seu plano para eliminar rapidamente o petróleo, o gás e o carvão, como a ciência diz ser imperativo. Os jornalistas também podem perguntar aos candidatos se estes recebem dinheiro da indústria dos combustíveis fósseis, o principal motor da crise climática; e pergunte aos candidatos quais soluções eles têm para os eleitores que sofrem com o calor mortal e outros extremos climáticos.

Em Santa Catarina, onde há espaço para isso e quem fará essas perguntas incômodas?

O artigo do The Guardian  está em https://www.theguardian.com/commentisfree/2024/feb/07/climate-change-presidential-election-media-coverage

Catástrofe climática e o Jornalismo de Ocorrência em Santa Catarina

Capa do caderno do Grupo NSC Por Míriam Santini de Abreu, jornalista A proporção da catástrofe que se abate sobre o Rio Grande do Sul provoc...