segunda-feira, 1 de julho de 2024

20 anos de pesquisa sobre o discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável

 



Míriam Santini de Abreu

Há 20 anos defendi, no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), minha dissertação, intitulada “O discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável: uma interpretação sob o ponto de vista geográfico”, com orientação do professor Nazareno José de Campos. Ela virou livro pela editora da mesma universidade, com o título “Quando a palavra sustenta a farsa: o discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável”.

Percorri três diferentes áreas de conhecimento, Geografia, Jornalismo e Análise de Discurso, para a pesquisa. Abordei a origem do conceito, ligando-o aos debates sobre a relação entre sociedade e natureza no Brasil e, especificamente, em Santa Catarina. Para isso, trabalhei com a categoria de formação socioespacial, aliada ao entendimento do meio geográfico atual como um meio técnico-científico-informacional, no caminho da obra do geógrafo Milton Santos. No jornalismo, situei historicamente a apropriação da problemática ambiental pelos meios de comunicação, na perspectiva do jornalismo como forma de conhecimento da realidade cristalizada no singular, como ensina o mestre Adelmo Genro Filho. Para fazer a análise dos dois veículos de comunicação selecionados, o JB Ecológico (Jornal do Brasil) e o AN Verde (então encartado em A Notícia), optei pela linha francesa da Análise do Discurso.

Com a pesquisa, concluí que o discurso em geral sobre a natureza é, fundamentalmente, um discurso político, de poder, construído também a partir do espaço. Com base nessas relações de poder, o discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável produz efeitos de sentido predominantemente empresariais, mesmo quando o sujeito-jornalista se propõe a formular um discurso sobre a preservação (intocabilidade) da natureza.

Observa-se que, de uma forma ou de outra, diferentes formações socioespaciais deixam vestígios no discurso jornalístico. Esses vestígios evocam manifestações concretas (desmatamento, poluição) da relação entre sociedade e natureza. O espaço geográfico, porém, é interpretado principalmente a partir da ótica dos atores hegemônicos ou do discurso da ciência. Sobra pouca ou nenhuma possibilidade para que outros atores sociais produzam suas próprias interpretações sobre os conflitos que se estabelecem nos diferentes lugares onde os discursos jornalísticos são formulados.

A dissertação está em https://pergamum.ufsc.br/acervo/203417

De lá para cá, aprofundei no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC minhas pesquisas sobre o espaço no jornalismo. Defendi a tese há quase cinco anos, em agosto 2019.

Hoje, uma nova farsa espreita, e 20 anos atrás eu já a citava: os tais mercados de carbono. O tema é ausente na mídia de Santa Catarina, mas, em veículos nacionais, está aparecendo com mais frequência.

Temas, como diria o Senhor Spock, fascinantes!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

20 anos de pesquisa sobre o discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável

  Míriam Santini de Abreu Há 20 anos defendi, no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ...