Míriam Santini de Abreu
Há 20 anos defendi, no Programa de
Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
minha dissertação, intitulada “O discurso jornalístico do desenvolvimento
sustentável: uma interpretação sob o ponto de vista geográfico”, com orientação
do professor Nazareno José de Campos. Ela virou livro pela editora da mesma
universidade, com o título “Quando a palavra sustenta a farsa: o discurso
jornalístico do desenvolvimento sustentável”.
Percorri três diferentes áreas de
conhecimento, Geografia, Jornalismo e Análise de Discurso, para a pesquisa.
Abordei a origem do conceito, ligando-o aos debates sobre a relação entre
sociedade e natureza no Brasil e, especificamente, em Santa Catarina. Para
isso, trabalhei com a categoria de formação socioespacial, aliada ao
entendimento do meio geográfico atual como um meio
técnico-científico-informacional, no caminho da obra do geógrafo Milton Santos.
No jornalismo, situei historicamente a apropriação da problemática ambiental
pelos meios de comunicação, na perspectiva do jornalismo como forma de
conhecimento da realidade cristalizada no singular, como ensina o mestre Adelmo
Genro Filho. Para fazer a análise dos dois veículos de comunicação
selecionados, o JB Ecológico (Jornal do Brasil) e o AN Verde (então encartado
em A Notícia), optei pela linha francesa da Análise do Discurso.
Com a pesquisa, concluí que o discurso em
geral sobre a natureza é, fundamentalmente, um discurso político, de poder,
construído também a partir do espaço. Com base nessas relações de poder, o
discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável produz efeitos de sentido
predominantemente empresariais, mesmo quando o sujeito-jornalista se propõe a
formular um discurso sobre a preservação (intocabilidade) da natureza.
Observa-se que, de uma forma ou de outra,
diferentes formações socioespaciais deixam vestígios no discurso jornalístico.
Esses vestígios evocam manifestações concretas (desmatamento, poluição) da
relação entre sociedade e natureza. O espaço geográfico, porém, é interpretado
principalmente a partir da ótica dos atores hegemônicos ou do discurso da
ciência. Sobra pouca ou nenhuma possibilidade para que outros atores sociais
produzam suas próprias interpretações sobre os conflitos que se estabelecem nos
diferentes lugares onde os discursos jornalísticos são formulados.
A dissertação está em
https://pergamum.ufsc.br/acervo/203417
De lá para cá, aprofundei no doutorado do
Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC minhas pesquisas sobre o espaço
no jornalismo. Defendi a tese há quase cinco anos, em agosto 2019.
Hoje, uma nova farsa espreita, e 20 anos
atrás eu já a citava: os tais mercados de carbono. O tema é ausente na mídia de
Santa Catarina, mas, em veículos nacionais, está aparecendo com mais
frequência.
Temas, como diria o Senhor Spock, fascinantes!
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