sexta-feira, 25 de abril de 2025


Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

A divulgação, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da pesquisa “Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios” rendeu, nos meios de comunicação, pautas sobre os dados de arborização. Segundo o Instituto, 58,7 milhões de pessoas (33,7%) moram em vias sem arborização, enquanto 114,9 milhões (66,0%) vivem em vias com presença de árvores, sendo que 55,8 milhões (32,1%) estão em vias com 5 árvores ou mais. 

Na região Sul, duas situações chamaram a atenção: São José (SC) é o município de mais de 100 mil habitantes com menor percentual de moradores em vias com arborização (15,1%), enquanto Maringá, o maior (98,6%). Já Florianópolis está em 24º lugar, entre 27 capitais, no ranking das capitais mais arborizadas. A síntese da pesquisa está no link https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/43166-censo-2022-dois-em-cada-tres-brasileiros-moram-em-vias-sem-rampa-para-cadeirantes

Na mídia catarinense, o fato repercutiu no Portal NSC Total, do grupo que comprou as operações da RBS em Santa Catarina, mas, em 13 parágrafos, a notícia não traz uma só entrevista. Aparece citado apenas o próprio IBGE. O texto, intitulado “Florianópolis está entre as cidades menos arborizadas do país, aponta IBGE”, pode ser visto no link https://www.nsctotal.com.br/noticias/florianopolis-esta-entre-as-cidades-menos-arborizadas-do-pais-aponta-ibge . O Jornal do Almoço, do mesmo grupo, em notícia de 2 minutos e 23 segundos, limitou-se a apresentar os percentuais, também sem entrevistas, conforme o link https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/videos-jornal-do-almoco/video/arborizacao-em-areaas-urbanas-13537377.ghtml .

O Diarinho, periódico do município de Itajaí, noticiou o fato sob o título “SC tem segundo pior índice de arborização do país”, em https://diarinho.net/materia/661308/SC-tem-segundo-pior-indice-de-arborizacao-do-pais . O portal destaca que, entre as dez áreas urbanas com as menores taxas de arborização, Santa Catarina aparece com seis municípios, incluindo a capital, Florianópolis. O Diarinho traz, entre aspas, declaração de um analista do IBGE, mas não houve entrevista. É um trecho tirado da notícia publicada na Agência de Notícias do próprio instituto, também usada pelo Portal NSC Total, mas sem indicação de fonte. 

As notícias não fazem qualquer relação com os motivos pelos quais Santa Catarina aparece tão mal no ranking, não cobram do poder público medidas para melhorar o índice de arborização, mostrando as consequências do fato apontado pelo IBGE, ignoram pesquisas científicas em diferentes áreas de conhecimento sobre o assunto (SC tem universidade pública federal e estadual) e não relacionam a realidade do estado com as mudanças climáticas. Dada a atualidade e relevância da pesquisa do IBGE, foi uma oportunidade perdida de fazer boa cobertura jornalística de um tema de interesse de toda a população.

 



Míriam Santini de Abreu, jornalista

Aproveitei o feriadão para ler seis artigos sobre História Ambiental, surgida na década de 70 para tratar do papel e do lugar da natureza na vida humana, definição de Donald Worster no clássico “Para fazer História Ambiental”. Discussão rica para jornalistas interessados na área e que tem, na UFSC, o LABIMHA e, na FURB, o GPHAVI, ambos grupos de pesquisa.

É impressionante o esvaziamento da compreensão da natureza e do espaço no jornalismo catarinense. As empresas não investem em pautas e equipes e grandes jornalistas que entendiam do traçado se aposentaram ou se dedicam a outras áreas nos tortuosos caminhos da nossa profissão.

Não sei que formação sobre SC os estudantes levam do ensino médio para o curso de Jornalismo, e assim seria de grande valia alguma disciplina tratar da relação entre sociedade e natureza, a relação entre elas no jornalismo e o enlace disso tudo com a formação socioespacial catarinense.

Ando à busca de um bom livro sobre História Ambiental com artigos que tenham como estudo especificamente SC. Até agora localizei artigos, mas poucos tendo o litoral como área de interesse. Um livro nesta linha é “Desastres Socioambientais em Santa Catarina”, disponível em https://labimha.ufsc.br/). A produção do GPHAVI está em https://gphavi.blogspot.com/

É interessante o fato de a História Ambiental trabalhar com material jornalístico, e fico pensando no quão pouco irão encontrar, no futuro, nas pesquisas que farão sobre o tempo presente. Dois motivos: 1) pautas, notícias e reportagens estão cada vez mais desidratadas e irrelevantes; 2) não irão localizar conteúdos, dado que as empresas desprezam o cuidado com os acervos virtuais. Vai sendo tudo apagado com o passar do tempo, situação piorada diante do fim dos impressos. Mas cito o caso do ND, que ao menos disponibiliza, no seu portal, os jornais em PDF desde 2012.

Fica a sugestão para o LABIMHA e o GPHAVI oferecerem curso de História Ambiental voltado a jornalistas e organizar um livro com artigos que contemplem, com diferentes objetos de estudo, todas as regiões de SC.

Sobre jornalismo ambiental, reunimos a produção de SC neste blog, em https://jornalismoambientalsc.blogspot.com/p/pesquisas_99.html

Por Míriam Santini de Abreu, jornalista A divulgação, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da pesquisa “Característi...